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AGRONEGÓCIO

Fórum aponta risco de colapso no crédito rural e sugere soluções para conter endividamento

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A inadimplência no crédito rural chegou a 5,9% entre pessoas físicas em 2025, segundo dados apresentados nesta segunda-feira (15.09) durante o Fórum de Crédito e Endividamento Rural (veja aqui), realizado pela Aprosoja-MT em Cuiabá. Os bancos, que concentram entre 80% e 85% do financiamento ao setor, também registram 15,8% de renegociações na carteira, revelando a pressão crescente sobre o campo.

De acordo com João Ferrari Neto, analista do Banco Central, entre pessoas jurídicas o índice é menor — 0,5% de inadimplência e 6,5% de renegociações. Nas cooperativas de crédito, os atrasos caem ainda mais, para 0,4%, sustentados pelo Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro). Já nas instituições financeiras públicas, como o Banco do Brasil, a situação é mais crítica: 6,3% de inadimplência e 16,4% de renegociações, acima da média do setor privado.

Três caminhos propostos

O debate reuniu especialistas que apontaram medidas para evitar um colapso financeiro no setor. O economista Fábio Silveira, da MacroSector Consultores, defendeu maior participação do Estado no financiamento agrícola. “Enquanto os Estados Unidos destinam cerca de 11% da receita agrícola em subsídios, o Brasil aplica apenas 1,5%. Não podemos ter vergonha de buscar financiamento público para um setor estratégico da economia”, afirmou.

Silveira lembrou que a crise começou em 2022, quando os custos de fertilizantes dispararam em meio à guerra na Ucrânia e à volatilidade cambial. A taxa Selic elevada encareceu o crédito e reduziu as margens dos produtores. “Na soja, a relação de troca subiu de 19 para 24 sacas por tonelada de fertilizante, um aumento de 22%. Estamos em plena crise”, afirmou, destacando que a inadimplência no setor saltou de 2% em 2021/22 para 4% em 2024/25.

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Para Ângelo Ozelame, fundador da consultoria Lucro Rural, a solução também passa por uma mudança na gestão das fazendas. Ele lembrou que muitos produtores, em anos de margens elevadas, assumiram dívidas para expandir sem avaliar os riscos. “Precisamos voltar à base e tomar decisões racionais, ancoradas em fluxo de caixa e não apenas em expectativa de preços”, disse.

O desembargador Mário Kono, presidente do Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos (TJMT), reforçou a necessidade de incentivar a mediação extrajudicial. Segundo ele, acordos diretos entre produtores, tradings e bancos são mais rápidos e eficazes que longos processos judiciais.

Setor pede confiança para atravessar a crise

Para o presidente da Aprosoja-MT, Lucas Costa Beber, a combinação de insumos caros, commodities em baixa e catástrofes climáticas minou a saúde financeira do campo. Ainda assim, ele acredita em saídas viáveis. “O setor está fragilizado, mas é resiliente. Precisamos de confiança, crédito acessível e segurança jurídica para continuar produzindo e alimentando o país”, afirmou.

O presidente da Federação dos Engenheiros Agrônomos do Estado de Mato Grosso (Feagro) e também presidente do Instituto do Agronegócio (IA), Isan Rezende, lembrou que o problema do endividamento rural não pode ser analisado apenas pela fotografia do presente, mas pela sequência de decisões equivocadas que se acumularam ao longo dos últimos anos.

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“O que vemos hoje é o produtor rural encurralado por fatores que estão fora do seu controle: custos de insumos em disparada, juros em patamares históricos e eventos climáticos extremos. O produtor fez a parte dele, plantou, produziu, aumentou a produtividade, mas o cenário econômico não acompanhou. Não se trata de uma crise de eficiência do campo, mas de um descompasso entre o que o setor precisa e o que o sistema de crédito oferece”, avaliou Isan.

“Por isso defendemos que o debate vá além do socorro pontual. É necessário estruturar políticas de crédito de longo prazo, com taxas compatíveis com a realidade agrícola, e reforçar mecanismos como o Proagro e o seguro rural, que têm se mostrado fundamentais. Se o produtor tiver previsibilidade e proteção contra riscos externos, a inadimplência cai naturalmente. Essa é uma responsabilidade compartilhada: governo, instituições financeiras e setor produtivo precisam agir juntos para que o agronegócio continue sendo motor da economia brasileira”, concluiu Rezende.

Fonte: Pensar Agro

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